Pesquisa recente do Ministério Público do Trabalho e da Organização Internacional do Trabalho mostra que, no Brasil, um acidente de trabalho é registrado a cada 48 segundos, com uma vítima fatal a cada 3 horas. Preocupado com estes índices, o deputado Valdelino Barcelos chamou uma audiência pública para oficializar o Abril Verde no DF, como mês de prevenção de acidentes e doenças do trabalho. O evento aconteceu na noite desta sexta-feira (26) e contou com mais de 300 pessoas, entre autoridades dos três poderes, profissionais da área, estudantes e familiares.
“Eu sou caminhoneiro e com muito trabalho, consegui me tornar um empresário em Brasília. Hoje eu conheço a importância do técnico em segurança para o bom andamento das atividades de uma empresa, mas há 20 anos isso não existia. O segmento do transporte era totalmente vulnerável, ainda mais quando falamos de cargas perigosas”, contou.
“Com a aproximação dos técnicos em segurança do trabalho, os índices caíram muito. Então eu vi com os meus próprios olhos que contratar um técnico é um ato de responsabilidade. Muitos empresários se assustam com essa necessidade, mas nós temos que trabalhar nessa realidade e ser exemplo para o Brasil”, defendeu Valdelino.
Segundo o presidente do Sindicato dos Técnicos em Segurança do Trabalho do Distrito Federal, Wilton de Araújo, a categoria hoje se sente “assistida, pois o gabinete do deputado Valdelino nos recebeu e desde o primeiro momento, mesmo antes de ser parlamentar, abraçou esta causa. Sem apoio, não temos como avançar nas políticas para a saúde do trabalhador”, agradeceu. O coordenador geral e representante da Confederação Nacional de Saúde, Cloves Queiroz, relembrou que já fazem 50 anos do fatídico acidente nos EUA que levaram à data 28 de abril, data mundial alusiva à memória das vítimas de acidentes e doenças do trabalho.
Para João Pedro dos Passos, secretário de Trabalho do GDF, “essa audiência pública precisa ter repercussão nacional, pois um acidente de trabalho muitas vezes não é um acidente, mas omissão, falta de cuidado e falta de prevenção, muitas vezes criminosa. Isso precisa acabar. O técnico não é um custo, é um investimento em prol da vida do trabalhador”. Em concordância, o desembargador do Tribunal Regional da 10ª Região, Grijalbo Coutinho, classificou como “crime” os casos de Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, ressaltando que a justiça do trabalho se preocupa com a prevenção.
“Esse exemplo precisa mesmo partir de Brasília”, alertou Luiz Augusto Damasceno, técnico da Fundacentro. “O brasileiro não fala de prevenção, pois viemos de uma cultura de escravidão e sofrimento. A cultura da prevenção precisa ser amadurecida”, defendeu. Também sobre cultura e educação, o diretor da Fundação Jorge Duprat, Dionísio Lamera, defendeu que se “deve começar pelo ensino fundamental e pelo ensino médio, de olho no futuro. Orientação se faz desde cedo”.
A presidente do CREA-DF, Maria de Fátima Có, falou dos direitos do trabalhador e a responsabilidade dos gestores. Nilza Maria, auditora fiscal da Superintendência Regional do DF, fez menção às marcas famosas que utilizam de trabalho escravo.
O técnico em segurança da Câmara Legislativa do DF, Marlei Duque da Silva, reforçou que esta é a primeira audiência pública e “é a primeira vez que temos voz. Nós não somos espectadores, somos participantes desta pauta”. Sandra Jardene, diretora de Saúde do Trabalhador da Secretaria de Saúde do GDF, defendeu o fortalecimento do SUS e denunciou que a sua diretoria pode virar gerência, reduzindo o poder de ação no DF. “Não podemos extinguir e sim ampliar”, pediu.
Paulo Lopes é técnico em segurança do trabalho e contou que a categoria é vista como “anjos da guarda”, contando sua experiência na profissão. O presidente do SINDICAT/DF, Elton Barbosa, também contou sua história de vida, frente a frente com a depressão, uma “doença silenciosa, sorrateira e muitas vezes fatal, que é sim um acidente de trabalho”.
Para o professor do Pronatec/Senac, Fábio Nogueira, muitas pessoas não sabem como agir em situações de emergência, colocando, mais uma vez, a educação em pauta. “Temos que fazer valer a pena o dia de hoje”, concluiu. O piso salarial da categoria também foi uma pauta levantada no evento.
Ao final da audiência pública, o deputado Valdelino Barcelos anunciou os encaminhamentos a serem feitos pelo próprio gabinete e também pelos órgãos dos poderes executivo e judiciário. Entre eles, a oficialização de documentos, solicitando que não haja redução de setores com poder de ação prevencionista, mas o crescimento de áreas competentes para prevenir acidentes e doenças do trabalho.